A Hipocrisia e a Destruição da Amazônia

24 de novembro de 2025 | Por: Cristiano do Valle

Do grego antigo, hypókrisis significa o ato de representar, interpretar um papel. Eram os atores de teatro que falavam por trás de uma máscara. Ou seja, representavam algo diferente do que realmente eram.

Mas o que isso tem a ver com a destruição da Amazônia?

Trabalho com mobiliário de madeira maciça exclusiva da Amazônia há 22 anos e, desde 2007, entrei no mundo do FSC® (Forest Stewardship Council) – caminho este que vi como a única alternativa segura para trabalhar com madeira amazônica brasileira. Mas por que o vi como o único caminho seguro?

Infelizmente, o mundo da madeira amazônica é, em sua imensa maioria, totalmente frágil em seus controles e diretamente relacionada ao desmatamento (seja legal ou ilegal), ao roubo, à grilagem de terras e à destruição ambiental. É uma cadeia com elos corrompidos, falsos, enganosos.

Somente ter o Documento de Origem Florestal (DOF) emitido pelo Ibama – que muita gente quer te enganar dizendo ser um certificado – não basta!

A madeira pode ter vindo de desmatamentos legais, autorizados pelo Ibama, órgão governamental, pois pela lei é possível desmatar 20% de uma propriedade. Ou, muitas vezes, a madeira vem de caminhos obscuros: roubos, grilagens, transportes clandestinos, autorizações que servem para legitimar 4 ou 5 viagens. Ouço de gente da floresta, caminhoneiros que andam por várias localidades amazônicas, gente do setor, que há inúmeras formas de se “legitimar” uma madeira ilegal.

É muito triste saber que a grande parte da madeira da Amazônia tem esta origem manchada. Mas mais triste ainda é ver a quantidade de empresas que enganam as pessoas, se fazendo de bons moços, amigos da floresta, produzindo suas propagandas dentro do manejo florestal, quando na verdade utilizam a maioria de suas madeiras destas más origens.

Também é muito triste ver importantes empresas, bancos, hotéis, empreendimentos, varejistas, fechando os olhos e aceitando esta origem duvidosa, simplesmente por não estarem dispostos a pagar o valor que a sustentabilidade de fato exige. Mesmo que em seus websites e annual reports coloquem todos os capítulos e palavras que a sustentabilidade merece.

Mas até quando vamos permitir que estas empresas fornecedoras de produtos florestais amazônicos ajam de forma enganosa e desleal?

E até quando permitiremos que as empresas consumidoras continuem fortalecendo esta cadeia de destruição?

Precisamos fortalecer os elos corretos: uma minoria de madeireiras e empresas do setor, como revendas de madeira, indústrias de piso e deck, molduras, construção e empresas de móveis amazônicos que realmente fazem o certo. O manejo florestal feito de forma correta, que permite a colheita da floresta de maneira que ela permaneça para sempre, cumprindo seu papel de preservação da biodiversidade animal e vegetal, no auxílio ao equilíbrio climático e no desenvolvimento social das pessoas que nela habitam.

E precisamos combater a mentira, a enganação, o tão famoso “greenwashing“.

Como dizia meu pai, “nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco”.

Esta realidade está corroendo os elos dos que fortaleceriam a preservação Amazônica. Não deixemos este elo se romper.

Cristiano Valle Fundador da Tora Brasil, empresa certificada FSC® C002322 desde 2007.

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